21 de junho de 2019

FURACÃO CATARINA (2019): 15 anos Depois


Nos dias 27 e 28 de março de 2004, a Região Sul do Brasil foi afetada por um fenômeno atmosférico atípico, denominado de Furacão Catarina. O evento no litoral Sul do estado de Santa Catarina e no litoral Nordeste do Rio Grande do Sul causou severos danos, elevados prejuízos, destruição e mortes. Os danos mais frequentes foram relacionados às edificações (casas, galpões, estufas, posto de gasolinas etc.), infraestruturas urbanas (rede elétrica, telefonia, estradas etc.), flora e fauna. 

Os municípios mais afetados foram Passos de Torres, Balneário Gaivota e Balneário Arroio do Silva. Conforme o Decreto Estadual nº 1691/2004, do total de 38 municípios atingidos em Santa Catarina, 14 municípios decretaram estado de calamidade pública (ECP) e 24 situações de emergência (SE), 26.443 pessoas foram desabrigadas e desalojadas, e registrados 10 óbitos. Mais de 250 mil pessoas foram afetadas ( CEPED UFSC, 2020, pág. 18). 



                                                           Imagens ( google earth) 

    Os danos mais intensos causados pelo Furacão Catarina foram observados principalmente nos municípios localizados na orla marítima. Entretanto, o número de desabrigados e desalojados não refletiu tamanha destruição. Conforme o furacão se deslocou em direção ao interior sua intensidade diminuiu significativamente, demonstrando um padrão de destruição radial. Baseado nos ventos estimados “in loco” e na intensidade dos danos observados na área de impacto do furacão, o Catarina foi classificado como um furacão classe 2 de acordo com a escala Saffir-Simpson. 
O fenômeno apresentou três fases distintas em Bal. Arroio do Silva, sendo que a primeira fase foi marcada pelos fortes ventos do quadrante sul. A segunda fase, durante a passagem do olho, foi caracterizada pela calmaria, ausência de precipitação, baixa pressão e elevada temperatura. Na última fase, os ventos do quadrante norte foram os mais intensos, apresentando alto poder de destruição, fortes chuvas e baixa temperatura em relação ao olho. Os danos mais intensos causados pelo Furacão Catarina foram observados principalmente nos municípios localizados na orla marítima. Entretanto, o número de desabrigados e desalojados não refletiu tamanha destruição. Conforme o furacão se deslocou em direção ao interior sua intensidade diminuiu significativamente, demonstrando um padrão de destruição radial. Baseado nos ventos estimados “in loco” e na intensidade dos danos observados na área de impacto do furacão, o Catarina foi classificado como um furacão classe 2 de acordo com a escala Saffir-Simpson( Marcelino et al., 2005).


Furacão Catarina: em destaque os municipios mais afetados. 
Fonte: Marcelino et al., 2005

REFERÊNCIAS:  

CEPED UFSC, 2020. Gestão de Risco de Desastres no Brasil : panorama atual e tendências. Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil. Universidade Federal de Santa Catarina.  [Organização Rafael Schadeck] – Florianópolis, SC, BR. 

MARCELINO, Emerson Vieira, et al. Impacto do Furacão Catarina sobre a região sul catarinense: Monitoramento e avaliação pós-desastre. Geografia (2005): 559-582. 
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Rita Dutra
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFSC. Pesquisadora do Laboratório de Gestão Costeira Integrada (LAGECI UFSC).




FURACÃO CATARINA : O impacto do furacão

Renan Antunes de Oliveira 
Reportagem UOL: Florianópolis (28/03/2014)

Com 65 anos, todos vividos em Passo de Torres (271 km de Florianópolis), o almoxarife Urbano Cardoso até hoje lembra com temor a passagem do furacão Catarina, principal evento da história da cidade: "Pouco antes da meia-noite [de 28 de março de 2004] o Zé Hamilton me ligou avisando de um vento forte, mas eu não dei bola porque por aqui sempre venta bastante" - esta cidade catarinense de 9 mil habitantes na divisa com o Rio Grande do Sul fica num descampado de frente para o mar.

Dez anos depois, Cardoso faz suspense para contar da noite inesquecível: "Quando a tempestade chegou na minha casa [faz uma parada dramática], me agarrei na mulher e na filha [outro momento de silêncio], ficamos juntos, assustados, rezando [aí ele aumenta a voz] enquanto as paredes gemiam e o telhado era arrancado".

Cardoso se recompõe: "As duas choravam de medo, eu tentava protegê-las. Até hoje não sei como escapamos daquela. Nunca vi nada igual e espero não ver de novo". Relatos como o dele são comuns na cidade que ficou no olho do furacão: Passo de Torres recebeu o maior impacto do único fenômeno do tipo já registrado por cientistas no litoral catarinense.


Foto de arquivo: casa destruída pelo furacão Catarina em março de 2004

"Na hora mesmo, eu estava em Caxias do Sul (RS), vim correndo no outro dia para ajudar meus pais", conta o engenheiro Márcio Lopes, 35. "Não vi, mas me contaram que foi terrível e os efeitos duram até hoje." Um 'efeito Catarina': "Naquela vez ninguém estava preparado e nem acreditava que seria possível um furacão. Agora, basta um vento mais forte que as aulas são canceladas e o serviço público encerra o expediente", diz Lopes. Cardoso ainda teve a sorte de ser avisado pelo tal amigo Zé Hamilton, prefeito de uma cidade vizinha. Algumas pessoas ficaram assustadas vendo noticiários na TV e saíram da rota mais ou menos prevista para a passagem do Catarina. Mas, a maioria dos da região que seria atingida encarou a histórica tempestade sem sair de casa.

Dona Janete, 35, da Papelaria Michelle, é uma das que ficou: "Éramos seis, meu marido, sobrinhos, filha, todos juntos. O pavor foi grande, mas nossa casa era de material e resistiu bem, tivemos sorte". 

Impacto de destruição do furacão catarina nas moradias próximas da orla.  

Sistema de alerta 

Por falta de furacões anteriores, o Brasil não tinha um sistema de alerta avançado. Mesmo hoje, Santa Catarina tem apenas uma bóia marítima e um radar (este, em instalação, só ficará pronto em julho) como únicas armas na prevenção de furacões. De lá pra cá os especialistas se dividem para enquadrar o Catarina na tabela Saffir-Simpson, uma criação dos americanos de 1950. Ela está para furacões como a escala Richter para terremotos. Vai de 1 a 5, pela velocidade e duração combinadas. Analistas da Universidade Federal de Santa Catarina acham que ele foi furacão 2, de ventos até 177 km/h. Meteorologistas independentes calculam furacão 1, ventos de 153 km. 
A classificação oficial mais aceita para o Catarina é a de furacão 3, conforme um simpósio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 2005. O Catarina teria tido velocidade de 180 km horários, combinada com o tempo de duração de cinco horas zunindo: só na passagem dele por Passo de Torres durou desde o telefonema do Zé Hamilton até o amanhecer. A tempestade também atingiu Balneário Gaivota e a praia de Torres, no RS. Seus resultados na região foram devastadores: três mortos, 75 feridos, 1500 casas destruídas e 40 mil danificadas.

Foram estragos em plantações de banana, arroz e fumo. Os prejuízos calculados à época pelas autoridades foram 360 milhões de dólares, R$ 828 milhões ao câmbio de hoje. 

Na literatura do Catarina consta que ele se desenvolveu a partir de um ciclone extratropical de núcleo-frio sobre o Atlântico, viajando no sentido leste-sudeste. Tradução: a chuvarada com vento forte desabou do mar para a terra e se dissipou no continente. Mais do seu Urbano: "Não se via nem os molhes no mar, estava tudo coberto de água, foi um horror". 

Nem tudo é drama: Gislaine, balconista da Mimi Calçados, dá uma sonora risada quando o repórter pergunta onde ela andava naquela noite: "não lembro mais, para mim foi só uma ventania que passou".


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Rita Dutra
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFSC. Pesquisadora do Laboratório de Gestão Costeira Integrada (LAGECI UFSC).


20 de junho de 2019

FLORIANÓPOLIS (2019): recuperação do calçadão da praia da Armação do Pântano do Sul - Ilha de SC

Equipes da Defesa Civil Municipal e Secretaria Municipal de Infraestrutura avaliam estragos causados por fortes ressacas.

 Por: Redação ND (12/05/2019) 

Equipes da prefeitura, Defesa Civil e secretaria de Infraestrutura de Florianópolis realizam na manhã desta quarta-feira (22), no Sul da Ilha, a análise técnica de um calçadão destruído por fortes ondas durante ressaca marítima. O local foi atingido na noite desta terça (21), na praia da Armação.

Recuperação na Orla da Praia da Armação do Pântano do Sul /Sul a Ilha de SC 

De acordo com Luiz Eduardo Machado, diretor da Defesa Civil de Florianópolis, a equipe da prefeitura e da Defesa Civil executam o trabalho de verificação das ações emergenciais para o local. “A princípio, este foi um caso pontual. O enrocamento cumpriu sua função e resguardou as edificações”, declarou Machado, a respeito dos blocos de pedra compactados usados como proteção contra as ondas.
Ainda segundo o diretor, o prefeitura já determinou a limpeza do local. O trabalho de reconstrução do passeio será realizado após a passagem de uma nova ressaca marítima, prevista para sexta-feira (24).
A Defesa Civil também orienta que proprietários de embarcações de pequeno porte, pescadores e banhistas não entrem no mar durante a alta da maré. O órgão informa que, nesta sexta, os ventos podem chegar a 100 km/h, o que pode resultar na formação de grandes ondas em alto mar.

Obra de Recuperação da Orla da Praia da Armação 

Fonte: Redação ND (12/05/2019)
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Rita Dutra
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFSC. Pesquisadora do Laboratório de Gestão Costeira Integrada (LAGECI UFSC).



FLORIANÓPOLIS (2010) Obra de Recuperação da Praia da Armação do Pântano do Sul: uma avaliação dos técnicos

Ressaca na Praia da Armação do Pântano do Sul: as obras protegerão a orla?  

Reportagem: Fabrício Escandiuzzi / junho 2010

A construção de um muro de rochas para conter o avanço do mar na Praia da Armação do Pântano do Sul, Sul da Ilha de SC, pode desencader novos cenários de riscos diante de novos episódios de ressacas. 

O alerta foi feito pelo diretor do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar) da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), João Luiz Baptista de Carvalho. 

Na fala do diretor, a colocação de rochas na orla poderá agravar ainda mais o quadro de erosão marinha.  A princípio, a obra protege as casas. Nas futuras ressacas, as águas encontrarão a barreira construída, erodindo com força na parte inferior do muro de proteção. 

Outra observação: o inverno ainda nem começou, o que pode trazer futuros problemas: “Neste período as ressacas são mais frequentes e a praia já está muito fragilizada, sem nenhuma faixa de areia”. 


Obras na orla da praia da armação 

        Opinião semelhante tem o geólogo Rodrigo Del Omo Sato, da diretoria do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) e voluntário da Defesa Civil Municipal. 
Segundo o geólogo, o muro de proteção não irá solucionar o problema de erosão. 
Sato destaca uma questão grave: os pareceres técnicos estariam sendo ignorados pela prefeitura municipal. “Tem que se atacar a causa do problema e isso não está ocorrendo”. “Técnicos da área não estão sendo ouvidos, a questão política vem sendo determinante para a execução da obra". "Ouve-se apenas a associação de pescadores”.

Sato realizou um estudo com imagens aéreas da praia da Armação desde 1938. Para ele, o fechamento completo do “molhe”, realizado há menos de seis anos, teria agravado a situação. “Tem que se acreditar muito em coincidência e acaso para não perceber que o molhe alterou a dinâmica costeira, afirma o geólogo. Sem o engordamento da praia tudo voltará a erodir.  Assim que chegar uma nova ressaca para valer, aí veremos o que é destruição da orla.
                                                                  
_ Mas afinal de contas, e essa obra de engordamento? Quanto vai custar? 
Segundo o secretário de obras do município, José Nilton Alexandre, o engordamento da praia será realizado logo após as obras emergenciais de construção do muro de proteção. O projeto ainda está sendo atualizado, mas, segundo secretário, a obra superaria os R$ 16 milhões de reais.  

Segundo Alexandre (gerente da Defesa Civil Municipal) o custo da obra de engordamento ainda pode aumentar “consideravelmente”, necessitando de melhor avaliação. 

Enquanto isso, 58 caminhões realizam três viagens diárias, cada um trazendo rochas para a construção da obra de proteção costeira. No caminhar da obra, a Defesa Civil Municipal (DCM) emitiu um novo alerta de forte ressaca no fim de semana próximo. O tamanho das ondas? Previsão de três metros.
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Fonte: Autor: Fabrício Escandiuzzi
Jornalista radicado em Florianópolis. Correspondente do Terra em SC, diretor da Agência ODM.
Reportagem: https://escandiuzzi.wordpress.com/2010/06/04/ressaca-na-armacao-muro-vai-adiantar/ 
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Rita Dutra 
Pesquisadora do Laboratório de Gestão Costeira Integrada da Universidade Federal de SC ( LAGECI UFSC)

FLORIANÓPOLIS (2016): Entenda os conflitos para execução da obra de recuperação da orla da praia da armação

"Após seis anos, estudo de impacto ambiental na praia da Armação deve começar a ser feito"

Reportagem NDMais: FELIPE ALVES, 29/03/2016

Ressacas na orla da praia da Armação do Pântano do Sul em 2010 destruíram cerca de 30 casas e, desde então, a prefeitura deveria fazer um estudo de impacto ambiental para executar obras de recuperação da orla.  

Moradora há quase 40 anos da praia da Armação do Pântano do Sul, Marilene Vieira, 60, viu de perto o mar destruir cerca de 30 casas em 2010. Desde então, uma obra emergencial foi executada para conter o avanço do mar e inúmeras promessas foram feitas para o início de um estudo de impacto ambiental. “Cada prefeito faz uma parte. Queremos que façam tudo de uma vez. Não acredito mais que essa obra irá sair. Hoje não tenho medo das ressacas e do avanço do mar,  no desastre de 2010 minha casa chegou a tremer, disse a moradora, que reside a 50 metros da orla. 

No dia 25 de fevereiro de 2016, a Justiça Federal determinou à prefeitura municipal que cumpra o acordo feito em 2010 e dê início aos estudos. A prefeitura já fez a licitação e tem a empresa vencedora. No momento,  aguardando um parecer da Procuradoria-geral do município para dar início à ordem de serviço, sem data prevista. 
Em 2010, três ressacas seguidas (13/05; 24/06 e 16/07) removeram praticamente toda a areia da praia, chegando a destruir algumas casas na orla. Com isso, boa parte da vegetação de restinga, localizada na orla foi suprimida. 

Para evitar novas destruições, a prefeitura fez um enrocamento de emergência e havia assinado um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para realizar as obras efetivas de contenção da erosão marinha e recuperação da praia. Na decisão recente da Justiça Federal, após requerimento do MPF (Ministério Público Federal), o juiz Marcelo Krás Borges determinou o sequestro da verba de publicidade da prefeitura caso não seja comprovado o cumprimento do acordo.
Segundo o procurador-geral do município, Alessandro Abreu, a prefeitura tinha duas decisões confrontantes, uma da Justiça Federal e outra da Justiça do Estado, que impedia que a licitação seguisse. 
A Justiça Estadual determinou que o Tribunal de Justiça entrasse no processo e, desta forma, a prefeitura decidiu dar continuidade ao processo de licitação. 
Segundo a PMF, “Decidimos acatar a decisão da Justiça Federal para dar uma solução mais rápida a este problema. Agora o processo está andando rápido e vamos explicar tudo nos autos”, explicou a assessoria de imprensa da Secretaria de Obras da Capital. A pasta aguarda um parecer da procuradoria para a emissão da ordem de serviço do contrato com a empresa vencedora da licitação.

Recuperação da Orla da Praia da Armação - Sul da Ilha

Multas e sequestro de verbas da prefeitura

        A decisão proferida pelo juiz Marcelo Krás Borges determina um prazo de 30 dias para que a prefeitura inicie os estudos, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Outros R$ 200 mil já estavam acumulados em multas ao longo do processo. O juiz pede ainda que o executivo informe quantos contratos de assessoria ambiental foram firmados pela prefeitura desde 2010, assim como quantas obras de alteração viária, aumento de capacidade de estruturas, restauração ou construções foram realizadas ou estão em andamento. Na decisão, o juiz destaca que “apesar das inúmeras requisições e intimações, a única coisa que a prefeitura juntou aos autos foram informações sobre sua alegada e pretensa incapacidade administrativa para licitar e contratar”.
O procurador Alessandro Abreu contesta a decisão e entrou com agravo de instrumento contra o que foi solicitado pelo juiz. “Isso nada tem a ver com o processo”, justificou. “Não faz sentido, pois o problema não é verba. Estávamos com impedimento da Justiça comum de dar continuidade ao processo. Agora vamos demonstrar que não foi inércia da prefeitura e sim por decisão judicial”, completou.

Projeto de 2011 não foi pra frente

      Em 2011, a prefeitura municipal chegou a fazer um projeto básico para a recuperação da praia da Armação, que compreendia dragagem, execução de molhe de proteção, recomposição de parte da praia (com engordamento) e retenção para evitar a erosão. O projeto serviria de complementação à barreira artificial construída por meio do enrocamento, que evitou uma taxa de avanço de até 50 metros em apenas dois meses. Além da erosão, outro grande risco é um desastre ambiental maior caso a Lagoa do Peri ou o seu sangradouro forem atingidos por água do mar. Desta forma, a salinização da água resultaria em consequências para a população e a fauna da Ilha. O projeto não chegou a executado e, em 2012, a prefeitura perdeu R$ 13 milhões solicitados ao governo federal que serviriam para a recuperação da praia. 
Agora, a nova empresa será contratada para elaborar o EIA/Rima (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental) e também o projeto executivo de recuperação da praia. De acordo com a Secretaria de Obras, a finalização e o acompanhamento do contrato serão realizados por uma equipe de técnicos da secretaria, da Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente) e do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis).

Entenda o DESASTRE de 2010 

     Em 2010, série de ressacas deixou um rastro de destruição na costa Sul da Ilha. A força do mar atingiu e danificou 30 casas e mais de 1.700 metros da orla, na praia da Armação do Pântano do Sul, destruindo parte da restinga da orla da Praia do Caldeirão/Morro das Pedras. 
Procuradoria-Geral do Município pede ao MPF “segurança jurídica” para a realização de obras e contenção da orla, com aterro e barreira de pedras para enrocamento do trecho afetado. Apesar da falta de EIA-Rima, a obra tem parecer favorável da Procuradoria-Geral da República em Santa Catarina em razão da situação de emergência.

AÇÕES EMERGENCIAIS:

        O acordo define que as obras emergenciais de contenção do avanço do mar começassem a partir da liberação emergencial das licenças, e grandes rochas foram transportadas de caminhões aos pontos mais críticos da orla. Posteriormente, após os procedimentos legais de licenciamento e do estudo de impacto ambiental, novas medidas seriam adotadas, conforme termo de ajustamento de conduta firmado entre prefeitura, MPF, Ibama/SC e Fatma.

Ações de Resposta:  

  • Em 2012, prefeitura perde R$ 13 milhões solicitados ao governo federal para recuperação da praia. Outros R$ 3 milhões viriam de contrapartida do próprio município.
  • Em 2013, é concluída a urbanização em 600 metros do trecho protegido com rochas. Com R$ 600 mil, são construídos deque de madeira e rampa de acesso à praia, calçadão com ciclovia, gramado, bancos e iluminação.
  • Em 2014, a prefeitura anuncia que licitação para estudos ambientais deveria ser aberta em até 90 dias.
  • Em 2016 (25 de fevereiro) a Justiça Federal determina que a prefeitura cumpra o TAC firmado em 2010 e, finalmente, contrate a empresa responsável pelos estudos.

Obras de Recuperação da Orla da Praia da Armação


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Rita Dutra 
Pesquisadora do LAGECI UFSC. 

15 de junho de 2019

FLORIANÓPOLIS: lançado o edital para o alargamento da faixa de areia da praia de CANASVIEIRAS(2019).

Reportagem do G1 SC/ 30/01/2019

Alargamento da Praia de Canasvieiras

        O edital para contratar a empresa que vai fazer o alargamento da faixa de areia da Praia de Canasvieiras, no Norte da Ilha, em Florianópolis, foi lançado nesta quarta-feira (30/01). As obras estão orçadas em R$ 16.417.463,54. Os envelopes com as propostas da licitação, na modalidade concorrência púbica, serão abertos às 16h do dia 06 de março.
A proposta prevê o alargamento entre Canajurê e o Rio do Brás, totalizando 2.325 metros. A ideia é que a faixa de areia passe a ter, inicialmente, entre 40 e 50 metros de largura, e de 30 a 35 metros depois de estabilizada. Atualmente, esse número varia de um a cinco metros.

Conforme a Prefeitura Municipal de Florianópolis(PMF), a Licença Ambiental Prévia (LAP) foi dada pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) em dezembro de 2018. As obras deverão ter duração de quatro meses, sendo executadas entre agosto e novembro deste ano. Depois, o IMA deverá conceder a Licença Ambiental de Operação (LAO), que formaliza a conclusão da execução do projeto.

De acordo com a prefeitura, a estimativa é que a orla receba 344.685,97 m³ de areia que será retirada de jazida submarina localizada a 1,4 km da praia. 

Praia de Canasvieiras - Litoral norte da Ilha de SC 
Praia de Canasvieiras

Reportagem:  https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2019/01/30/prefeitura-lanca-edital-para-alargar-faixa-de-areia-da-praia-de-canasvieiras-em-florianopolis.ghtml

Outras Noticias:

1) Alargamento da faixa de areia de Canasvieiras começa em agosto de 2019

2) Onze empresas enviam propostas para alargamento da faixa de areia em Canasvieiras

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Rita Dutra
Pesquisadora do LAGECI UFSC


BALNEÁRIO CAMBORIÚ (2019): IPHAN autoriza alargamento da Praia Central de BC

Reportagem NSTotal
Por Dagmara Spautz - 15/04/2019


Alargamento da Praia Central de Balneário Camboriú - Litoral Centro-Norte de SC

        O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) autorizou a prefeitura de Balneário Camboriú a dar sequência no licenciamento das obras de engordamento da faixa de areia. O documento, assinado pela Coordenação Técnica Nacional de Licenciamento, informa que não há vestígios arqueológicos na área onde será executada a empreitada. O trabalho de arqueologia subaquática, contratado pela prefeitura como parte do processo para obtenção da Licença Ambiental de Instalação (LAI), foi feito em duas frentes. Aparelhos eletrônicos fizeram uma varredura no fundo do mar, e mergulhadores vasculharam ao longo da orla e na região do Pontal Norte, onde será construído um molhe que servirá para contenção do alargamento.

       Os arqueólogos realizaram entrevistas com moradores e pesquisaram documentos, em busca de registros de um eventual naufrágio, ou atividade indígena na orla. Os estudos ocorreram em janeiro(2019), e o resultado foi entregue ao IPHAN. Maria Luiza Lenzi, diretora de Desenvolvimento Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de Balneário Camboriú, destacou a agilidade do órgão federal na análise do processo. O próximo passo será uma investigação mais detalhada da jazida, de onde será retirada a areia que vai engordar a praia. É uma sondagem delicada, a 35 metros de profundidade, que deve entrar em licitação nos próximos dias.
    Assim que iniciarem os últimos estudos, a prefeitura pode licitar a obra. Falta, no entanto, autorização de Brasília para o financiamento de R$ 85 milhões junto ao Banco do Brasil, para cobrir os custos do projeto.

Inquérito

     Enquanto isso, segue correndo na 5ª Promotoria de Justiça de Balneário Camboriú o inquérito que avalia todo o processo da obra de alargamento – inclusive as licenças ambientais. O promotor Isaac Sabbah Guimarães recebeu do Instituto do Meio Ambiente (IMA) a papelada que envolve o licenciamento. Os documentos estão em análise. No Ministério Público Federal (MPF), um inquérito semelhante é tocado em sigilo.


Praia Central de Balneário Camboriú 

Ressaca na Orla da Praia Central de BC 

Projeto de alargamento da orla da praia central de BC 
Outra visão do projeto de alargamento da orla da raia central de BC 

Reportagem:  https://www.nsctotal.com.br/colunistas/dagmara-spautz/iphan-autoriza-alargamento-da-praia-central-de-balneario-camboriu

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Rita Dutra 





NAVEGANTES(2018) recuperação e alargamento da faixa de areia da Praia de Gravatá

Reportagem: NSCTotal
Por: Dagmara Spautz -17/09/2018

Um ano depois (16/09/2017) da ressaca que destruiu parte do calçadão da Praia de Gravatá, em Navegantes, a obra de reconstrução ainda está em execução. O secretário de Governo, Cassiano Weiss, informa que a obra está na fase final, com 77% já executado. No total, será investido R$ 1,4 milhão, e a previsão é de que a conclusão, que seria em outubro deste ano, foi estendida para dezembro por causa da elevação do nível do mar no inverno, o que dificultou a execução das rampas.
A cidade trabalha em busca de uma solução definitiva para o problema das fortes ressacas. Um grupo de empresários foi criado há cinco meses, liderado pela Associação Empresarial de Navegantes (Acin) em conjunto com a prefeitura. O comitê já ouviu oito empresas que apresentaram propostas para a reurbanização da praia e recuperação com alargamento da faixa de areia, o que deve ajudar a prevenir os danos das ressacas.
A última reunião com empresas ocorreu na semana passada. A partir disso, os empresários vão definir uma proposta e pagar a elaboração de um projeto executivo. A estimativa é de que esse estudo custe até R$ 880 mil. Com o projeto em mãos, empresários e poder público começarão a busca por recursos federais para a execução das obras, estimadas inicialmente entre R$ 20 milhões e R$ 22 milhões.
Por enquanto, os próximos passos são a criação de uma lei municipal que permita ao município receber a doação de projetos custeados por entidades externas, como o Instituto Renova Navegantes, criado pelos empresários da cidade, e a abertura do município para o recebimento dessas propostas. Essas duas etapas devem ocorrer em cerca de 30 dias, segundo os empresários.
O instituto também defende a criação de um fundo municipal para a manutenção da faixa de areia recuperada, para garantir que os futuros investimentos para manter a recuperação sejam feitos.

Praia de Gravatá - Navegantes 

Praia de Gravatá - Recuperação da Orla  


Fonte: https://www.nsctotal.com.br/colunistas/dagmara-spautz/navegantes-estuda-recuperacao-e-alargamento-da-praia-de-gravata

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Rita Dutra
Pesquisadora do LAGECI UFSC


14 de junho de 2019

FLORIANÓPOLIS (2017):Ocupação desordenada e ressacas históricas mudam o litoral de SC

Reportagem: ClicRBS (11/11/2017)
Por: RAFAEL THOMÉ - Diário Catarinense

    O mar sempre volta para buscar aquilo que lhe é tomado. Sabedoria popular de quem vive no litoral, a frase nunca fez tanto sentido. Desde o início do inverno, as águas avançaram com força sobre as praias do litoral catarinense, arrancando estruturas de concreto, contorcendo vergalhões de ferro, derrubando construções de tijolos. Uma destruição implacável que já levou seis municípios do Estado a decretarem situação de emergência(SE). 

    Não há uma razão única para explicar a gravidade do desastre que ocorreu neste ano. Uma combinação incomum de fenômenos naturais, ressacas avassaladoras em diversos pontos do litoral do Estado, assustando moradores e turistas. Praias que antes tinham largas faixas de areia, como o praia do Matadeiro, na Ilha de SC ( Florianópolis), praia do Ervino, em São Francisco do Sul, praia de Balneário Camboriú e na praia central de Itapoá, todas foram tomadas pelo avanço do mar e, hoje, têm poucos metros de terra firme. 

    A soma de eventos meteorológicos extremos persistentes com a ocupação desordenada das praias, fazem parte dessa equação que resultou no severo processo de erosão no litoral catarinense. "Geralmente, isso ocorre em praias bem urbanizadas, que tiveram crescimento desordenado sem respeito a zona de proteção ( areas de restingas), zona de amortecimento natural". " É normal este processo erosivo nas dunas e restingas, o problema é quando tem ocupação urbana nessas áreas", afirma o gerente de monitoramento e alerta da Defesa Civil de Santa Catarina, Fred Rudorff. 

    A praia dos Ingleses, na Capital do Estado, foi uma das mais afetadas. Se dois anos atrás havia uma faixa de areia de quase 30 metros de largura, hoje são menos de 10 metros. Os moradores mais antigos garantem que isso acontece de tempos em tempos, mas que dessa vez o impacto foi maior por causa das construções.

    "As pessoas invadiram as zonas de proteção.  A Ilha de SC está perdendo a alma, e as bruxas estão revoltadas", sugere Valdir dos Santos, morador de 61 anos, mais conhecido como Valdir Mata-fome, figura característica da praia dos Ingleses.

Se há ou não revolta das bruxas, o fato é que entre os pesquisadores da área, a sensação é de que os moradores e os turistas terão que se adaptar, ao menos por algum tempo, às novas configurações das praias. Alguns arriscam que o prazo para uma recomposição da faixa varie de dois a três anos.
Segundo pesquisador do EPAGRI/CIRAM, os eventos de 2017 foram extremos. A recuperação da orla natural é lenta e depende de como a gente vai mexer na zona costeira. A natureza leva a areia, mas traz de volta. "A gente só não pode cometer mais besteira, como colocar pedra em tudo, porque isso pode contribuir ainda mais para a erosão no longo prazo", afirma Carlos Eduardo Salles de Araújo, pesquisador da Epagri/Ciram do grupo de monitoramento costeiro.

Mudanças climáticas

      No Municipio de São Francisco do Sul, o avanço do mar causou estragos não só nas praias mais urbanizadas, como também naquelas mais inóspitas. Se em Itaguaçu, Ubatuba, Enseada e Prainha a erosão marítima afetou vias públicas, calçadões e a rede de iluminação, na Praia Grande e no Ervino, o mar engoliu parte da Avenida das Dunas, que chegou a ser interditada pela Defesa Civil municipal na altura do Parque Estadual Acaraí. Isso se explica por causa da sobreposição da maré meteorológica à maré astronômica, aliada às fortes ondulações de Leste na costa catarinense, mas há quem diga que é um sinal das mudanças climáticas que começam a dar as caras em todo o planeta como reflexo do aquecimento global.

    "O que aconteceu com a Praia Grande, a quantidade de areia que o mar retirou, é uma coisa inexplicável". "A gente via efeitos parecidos esporadicamente, mas não nessa proporção. Acredito que o ser humano vai ter que recuar. Não sei se vamos estar aqui, mas em algum momento vamos ter que subir a serra. A gente também nunca tinha visto a chamada maré seca, esse grande recuo do mar", afirma Marcolino Ribeiro, morador da Prainha( São Francisco do Sul), comunicador que faz boletim de ondas há 18 anos.

Especialistas contestam que nível do mar está subindo

    Apesar de reconhecer que as mudanças climáticas contribuem para o avanço dos eventos extremos, especialistas evitam atribuir essa causa somente aos fenomenos naturais. De acordo com o físico oceanógrafo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Felipe Pimenta, a hipótese de que o nível do mar está se elevando tem que ser refutada neste momento. "Se o nível do mar estivesse subindo, nós teríamos problemas em todas as praias. E não temos. O efeito é localizado, associado à orientação das praias e à maneira que elas interagem com ondulações e ventos atípicos". "O ambiente tem a variabilidade natural e, de ano a ano, vai funcionar de maneira mais ou menos previsível, mas a gente sabe que existem alterações no clima que podem ocorrer a cada seis ou sete anos, como o El Niño, por exemplo. Então, é possível que, em determinado momento, certa praia responda de maneira repentina, mas depois volte ao seu ciclo natural"

    É essa a esperança de quem vive na faixa litorânea, especialmente nos municípios de Itapoá, Barra do Sul, Barra Velha, São Francisco do Sul, Navegantes e Florianópolis, onde diversas praias do litoral catarinense foram atingidas pelo avanço do mar neste ano de 2017. 

    Às vésperas de mais uma temporada de verão, oportunidade para muitos moradores aumentarem sua renda com o comércio, a expectativa é de que o mar recue para não prejudicar a movimentação de turistas. Segundo Leonel Pavan, foi realizado uma pesquisa recente com as agências de viagens e não sentimos nenhuma influência (das ressacas) até o momento. "A expectativa é de ter uma grande temporada, com aumento de 15% no número de turistas em relação ao ano passado (estimado em mais 8 milhões de pessoas em todo o Estado). O avanço do mar impactou, mas a natureza se recupera", afirma o secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, Leonel Pavan.

        Apesar do otimismo do poder público, aqueles que vivem do comércio à beira-mar já começaram a sentir os efeitos das ressacas. Rita Ormond, de 51 anos, que é dona de uma loja de artigos de praia na Rua dos Tubarões, orla da praia dos Ingleses, lamenta a queda nas vendas. O comércio fica em um acesso proximo da orla, nos desastres, a praia virou uma grande pilha de escombros. Tem uns quatro ou cinco meses que estamos penando. As vendas caíram cerca de 80%. O pessoal saía da praia e passava direto aqui, mas depois dessas marés, entramos em desespero. O buxixo que a gente escuta é que vão limpar, então estamos esperançosas. Espero que mude até o verão, porque dependemos disso – afirma a comerciante. 

 Praia do Caldeirão, Sul da Ilha de Santa Catarina/ Out. 2017

Praia do Matadeiro - Out. 2017

Praia dos Ingleses - Out. 2017




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Rita Dutra
Pesquisadora do LAGECI UFSC

FLORIANÓPOLIS (2017):Três fatores explicam avanço do mar no litoral catarinense.

Reportagem (11/11/2017 )
RAFAEL THOMÉ ( Diário Catarinense)

    Oceanógrafos e engenheiros marinhos afirmam que a sobreposição de três fenômenos naturais por um período prolongado ajudam a explicar o avanço do mar sobre as praias do litoral de Santa Catarina. Nessa equação, há influência da maré astronômica, que é o resultado da força gravitacional do Sol e da Lua e do movimento orbital da Terra; da maré meteorológica, com ventos no oceano, que podem contribuir para o empilhamento ou a retirada de água da costa; e das fortes ondulações vindas do Leste, que potencializam o impacto das ondas na orla.
Como consequência, nas praias de orientação noroeste-sudeste (como em Ingleses, em Florianópolis, ou na Prainha, em São Francisco do Sul), as ondas que vêm do leste “retiram” o pacote sedimentar da praia, levando-o como um cordão arenoso para a parte submersa e formando bancos de areia. Já nos balneários de orientação Norte-Sul (como o Caldeirão do Morro das Pedras, em Florianópolis, ou Mariscal, em Bombinhas), há um maior transporte de sedimentos para o sul da orla.
– Por que levanto essa hipótese? Eu corro na orla da praia da Armação do Pântano do Sul e percebi o agravamento do problema da erosão na praia do Caldeirão. Quando eu chegava lá na ponta sul, observava os galhos todos lá e que a faixa de areia está bem gordinha ali. Também tem erosão na parte norte do Matadeiro, mas na Armação não tem. Ou seja, o sedimento está se acumulando naquela área – afirma Felipe Pimenta, oceanógrafo da UFSC.

        Entre os nativos e pescadores experientes, corre a teoria de que esses eventos mais extremos costumam ocorrer a cada sete anos. Luiz Eduardo Machado, diretor da Defesa Civil de Florianópolis, lembra dos fenômenos recentes que reforçam essa tese e faz um alerta para os próximos anos: 

– Em 2003, 2010 e agora em 2017 presenciamos esses fenômenos. Então, é bem provável que teremos outro em 2024, o que é bastante preocupante. Precisamos começar a nos planejar, desde o morador até os empresários e donos de hotéis, não esperando apenas que o poder público tome a frente. No próximo ciclo, a probabilidade de danos é maior do que agora.

Caminhos para a recomposição

    A recuperação natural das praias é lenta e nem sempre volta ao que era antes. Além disso, o avanço das construções nas orlas agravam a erosão costeira e podem permanecer ameaçadas. Entre as possíveis soluções para o problema, duas ações se destacam: o enrocamento para conter danos à infraestrutura pública e o engordamento artificial da faixa de areia para recuperar a balneabilidade da orla.
Com o passar do tempo, as praias podem se recuperar, mas isso não quer dizer que os órgãos responsáveis pela infraestrutura estão isentos de planejamento urbano e de cálculos de obras costeiras que protegem a orla, explica Felipe Pimenta, da UFSC.
Algumas das medidas são de relativa facilidade de execução e já foram tomadas pelas prefeituras, como o enrocamento de pedras na praia do Caldeirão, Morro das Pedras, em Florianópolis, para preservar a rodovia SC-406. Já o engordamento da faixa de areia é uma ação mais complexa, que requer investimentos e estudos técnicos. 

    É preciso iniciar um projeto conceitual, com estudo das ondas e da incidência na costa, além de encontrar uma areia com granulometria compatível com a nativa da praia. Depois que a obra está pronta, o turismo gera mais recurso do que o valor que foi gasto – diz Rodrigo Barletta, gerente de projetos de uma multinacional de consultoria em engenharia costeira. No início de novembro, Barletta esteve nos EUA, onde participou de uma conferência sobre gerenciamento de proteção costeira e combate à erosão marinha. De lá, traz o exemplo de Miami e todo Estado da Flórida, onde as praias também sofrem com o constante avanço do mar. Desde 1990 eles trabalham nisso. A cada quatro anos, em média, algumas praias são “engordadas” e há um trabalho constante de manutenção. Tem toda uma política de recursos e gerenciamento baseada em normas técnicas.

    Em Santa Catarina, a prefeitura de Balneário Camboriú lançou um anteprojeto para o engordamento da Praia Central de 2 a 3 milhões de metros cúbicos de areia, quantidade suficiente para aumentar a orla de 25 para 70 metros, ao custo estimado de R$ 110 milhões. Em Florianópolis, um cálculo preliminar para o aumento da praia de Canasvieiras de 10 para 30 metros aponta um custo de, pelo menos, R$ 30 milhões.
O que se perde de dinheiro movimentado pelo turismo é muito maior do que aquele investido no engordamento das praias. Tem uma discussão muito grande sobre até que ponto o governo e o cidadão têm que pagar por isso, porque muitas vezes o ganho econômico é localizado. Nada mais natural, e isso ocorre nos países desenvolvidos, que aquelas instituições que se beneficiam daquela parte da praia paguem um imposto a mais ou colaborem com a obra – sugere Felipe Pimenta(UFSC).

    O secretário Leonel Pavan esteve recentemente em Alicante, na Espanha, onde viu de perto o resultado do engordamento de uma praia. Apesar de reconhecer os benefícios para os empresários do ramo de turismo, ele acredita que seria uma “aberração cobrar do setor privado”.
– (Os municípios) têm que investir do próprio bolso, porque o retorno vem nos impostos. O engordamento tem que ser feito não só em Balneário Camboriú, mas também em Piçarras, Penha, Navegantes... Precisamos adensar, construir marinas e restaurantes. Danem-se as críticas. Essa visão de alguns ecologistas, salvadores do mundo, é ruim para nós – afirma Pavan.
Pimenta, da UFSC, alerta que esse tipo de projeto precisa ser assessorado por pessoas com formação devida para calcular reestruturas no mar, como oceanógrafos ou engenheiros costeiros:
Para lembrar de um acidente em que não houve esse envolvimento, temos aquela passarela no Rio de Janeiro, onde as ondas destruíram a ciclovia suspensa.
Expectativa pela temporada
        Às vésperas de mais uma temporada de verão, diversas praias atingidas pelo avanço do mar continuam em situação de emergência. Em alguns casos, os decretos das prefeituras municipais já foram homologados pelo Estado e reconhecidos pela União, como em Florianópolis. Os recursos para as obras emergenciais na Capital foram liberados essa semana. Com prazo de recuperação das praias para 15 de dezembro, uma semana antes do período de maior movimento de visitantes, o trade turístico de Santa Catarina está cauteloso quanto ao prejuízo causado pelas notícias que circulam no Brasil e no exterior.
– Tivemos praias bastante prejudicadas, fiquei impressionado com as imagens que vi. Sabemos da situação financeira restritiva, por isso dificilmente a recuperação será feita completamente até a temporada e vai ficar por conta da própria natureza – comenta Raphael Dabdab, presidente estadual da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

     De fato, a perspectiva é de que as praias não se recuperem naturalmente até o início da temporada. Conforme o diretor da Defesa Civil de Florianópolis, Luiz Eduardo Machado, não se pode esperar que a reposição natural de sedimentos aconteça em menos de 60 dias. O trabalho, agora, é fazer a remoção dos escombros e deixar a orla o mais aproveitável possível:
– A limpeza dos escombros será feita assim que o mar recuar, com as equipes da prefeitura. Neste mês, entramos nas praias para promover ao turista a melhor faixa de areia possível, mas é lógico que haverá mudanças no uso das orlas.

    Como apontam climatologistas e oceanógrafos, esses fenômenos extremos irão se tornar mais comuns. Atualmente, Santa Catarina ainda sofre relativamente pouco com o avanço do mar em comparação aos países asiáticos, como Indonésia e Japão (atingidos por tsunamis em 2004 e 2011, respectivamente), ou aos países caribenhos (atingidos por três furacões somente neste ano), mas, segundo o oceanógrafo Felipe Pimenta, é preciso ligar o sinal de alerta especialmente no que diz respeito à relação entre o homem e a natureza:
– A pior influência antrópica é a ocupação desordenada da zona costeira. As regiões de dunas, que absorvem a energia das ondas, têm muitas construções. O maior planejamento do governo, junto à fiscalização do poder público, é sanar esse problema. São questões que envolvem geografia, oceanografia, engenharia, planejamento urbano... Temos que começar a planejar melhor nossas cidades.
Florianópolis - Praia do Matadeiro/2017 - Recuo da linha da orla)  

Florianópolis - Praia do Matadeiro/2015 



Reportagem:  http://dc.clicrbs.com.br/sc/nos/noticia/2017/11/tres-fatores-explicam-avanco-do-mar-no-litoral-catarinense-9992867.html
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Rita Dutra
LAGECI UFSC

Mudanças climáticas e ocupação desordenada contribuem para tragédia no litoral norte de São Paulo.

T ragédia no litoral norte de São Paulo.   A.A. Notícias( 20/02/23) Para o  36 mortes  confirmado até agora  litoral norte de Sao Paulo  alé...