Tragédia no litoral norte de São Paulo.
A.A. Notícias( 20/02/23)
Para o 36 mortes confirmado até agora litoral norte de Sao Paulo além de 2.400 desabrigados devido às fortes chuvas do último fim de semana, são o resultado de uma combinação de fatores. Os principais, segundo a meteorologista Ana Avila, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), são as mudanças climáticas – tornando mais frequente esse tipo de evento extremo – e a ocupação desordenada natureza das cidades – que leva as pessoas a viverem em áreas de risco próximas a encostas e morros.
Ela destaca que o Cepagri detectou que, entre 3h e 4h de domingo, no bairro Juquehyem São Sebastião, choveu 96 milímetros. “Isso significa 96 litros de água por metro quadrado em uma única hora. É muita água em pouco tempo. É impossível que o solo absorva”, diz Ávila.
Em toda a cidade de São
Sebastião a precipitação acumulada foi superior a 600 milímetros em
24 horas, ou seja, 600 litros de água, em um único dia, em uma área
quadrada pouco maior que um balde. Os sistemas de drenagem não deram conta, o
que provocou alagamentos em áreas mais nobres e turísticas, além de alagamentos
e deslizamentos de morros que causaram a maior parte das mortes e
deslocamentos.
Segundo o meteorologista, as cidades
brasileiras não estão preparadas para esses eventos naturais extremos, que
tendem a se tornar mais frequentes em meio ao aquecimento global. “Observamos
um aumento na frequência de eventos extremos e as cidades não foram planejadas
para isso. Enfrentamos esse problema em todas as localidades do país hoje”.
No litoral norte paulista, a situação
é agravada pela forma desordenada com que as cidades foram ocupadas, num modelo
que privilegia o turismo, reservando os trechos mais próximos à praia para
proprietários de terras e turistas de alta Renda, e empurrando moradores permanentes e
trabalhadores para áreas próximas a encostas.
“O litoral paulista tem uma estreita faixa entre a praia e as montanhas do mar. Isso concentra problemas mais diluídos nas grandes cidades”, observa o urbanista e arquiteto Nabil Bonduki. “Há uma faixa superfaturada na beira da estrada em direção à praia, onde ficam os condomínios e pontos turísticos, e do outro lado da estrada, áreas que ficam mais desvalorizadas conforme você se aproxima da serra”, acrescenta. .
Ele explica que a massa de
trabalhadores do litoral norte de São Paulo está impossibilitada de morar nas
áreas mais valorizadas e está se estabelecendo, legal ou ilegalmente, perto dos
morros e morros, que são as áreas de risco. “Enquanto as casas das áreas mais
nobres ficam desocupadas a maior parte do ano, há pouco espaço para essas
pessoas morarem e elas acabam se mudando para áreas mais inseguras”. Além
disso, como comenta Bonduki, o Governo não consegue criar conjuntos
habitacionais para essa população por falta de espaço.
“É um problema sério. A capacidade
habitacional nesta região é baixa. Não são áreas adensadas e as áreas mais
propícias à ocupação são as mais valorizadas, onde as vítimas fatais das
chuvas, em geral, não conseguem viver por conta da Renda”, aponta o urbanista.
A meteorologista Ana Ávila aponta
que, embora a população de alta Renda do litoral norte também esteja
sendo afetada pelas chuvas concentradas, neste grupo as perdas são materiais
por conta das enchentes causadas por infraestruturas que não suportam mais a
dimensão de eventos extremos. Por outro lado, entre as pessoas de baixa Renda que são empurradas para as
ladeiras, as perdas são de vidas humanas.
“Se estimarmos os prejuízos causados
por um evento como este, certamente é da ordem de milhões. E se trabalharmos
em adaptações e medidas de mitigação para tais eventos, o custo também será da
ordem de milhões, mas vidas serão preservadas”, sugere Ávila, lembrando que as
adaptações precisam ser planejadas observando as necessidades de cada região.
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Fonte: Aracajú Notícias
Rita Dutra - LAGECIUFSC (21/02/23)
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